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O Eterno
"Legado Manuelino"

    Manuel Gomes Coelho Pinto da Cruz ou simplesmente Manuel Cruz ou até “Manel”, como tanto gosta que lhe chamem, desde cedo se ligou à arte e à música conciliando neste momento a vida de músico com a de ilustrador e pintor.

    Na música é em 1991 que surge o seu primeiro e até agora mais conhecido projeto, a Banda “Ornatos Violeta”. Este foi o Projeto que mais o distinguiu, ainda que fosse merecedor de maior notabilidade.

 

    Os Ornatos Violeta, nome curioso, lançado à revelia da sorte dos deuses, numa simples abertura de dicionário. Contavam com Nuno Prata no baixo, Kinörm na bateria, Peixe na Guitarra e Elísio no teclado. Têm o seu início em 1991 sendo o primeiro álbum lançado apenas em 1997, intitulado “Cão!”. Este primeiro álbum foi bem aceite pela crítica. Mais tarde, em 1999, lançam o seu segundo e, infelizmente, último álbum “O Monstro Precisa De Amigos”, um álbum mais contido que contou com várias participações, destacando-se a de Vítor Espadinha. É com este segundo álbum que são galardoados com os prémios “melhor voz masculina”, “melhor canção” com a música “Ouvi dizer” e “melhor grupo Português”. Este álbum contava com músicas como “ Dia Mau” e “Omem” que integraram a banda sonora da serie “Uma Aventura”.

 

    Os Ornatos marcaram assim toda uma geração, como as que se sucederam, sendo por mim considerada uma das bandas mais importantes no panorama nacional.

    Com o fim deste projeto que mais tarde veio a juntar novamente os elementos do grupo para três concertos em 2012 nos coliseus de Lisboa e Porto e no festival de Paredes de Coura, seguiram-se outros como “Pluto”, constituído por 4 membros: Peixe e Manel dos Ornatos e Supernada (ambos os projetos surgiram em 2002). Estes últimos chegaram mesmo a passar pelas noites académicas da Covilhã.

 

    Em 2008 concretiza-se um dos mais ilustres projetos do genial e sempre irrequieto Manel, iniciado cerca de 10 anos antes, “Foge Foge Bandido”, caindo como uma bomba no panorama musical nacional, marcado pelo seu lado mais intimista e pelo peculiar nome do primeiro álbum “O amor dá-me tesão/ Não fui eu que estraguei”.

 

    De toda a obra musical de Manuel Cruz, merecedora de especial admiração pela sua riqueza lírica, apenas me apraz citar o próprio “na minha terra diz-se Foda-se!”.  

Por: João Santos

À Luz do Cinema Português

    Seguindo o apanágio do primeiro post desta rúbrica vou olhar para 2014 e ressalvar o facto que, a mim, me parece mais importante no Cinema Nacional, quiçá Mundial.

    Pelo centésimo sexto ano consecutivo, Manoel de Oliveira está entre nós.
    Qual Deus, símbolo nacional, dos poucos ainda vivos, um Mestre reconhecido e acarinhado a nível mundial. Mestre que tardará a ser superado tanto em longevidade como em vigor produtivo.
    Manoel, está cá há mais tempo que o Hino, que a Bandeira Nacional.
   
    Quando se deu a
Primeira Guerra Mundial, Manoel já comia sopa, sozinho, e jogava à bola no quintal do palacete.
    Quando nasceu
Jonas Mekas, o 2º realizador mais velho em actividade, já Manoel teria perdido a virgindade, com “Lucinda” a filha mais velha da empregada e partia corações ao domingo na alta sociedade do Porto.

    Aos 18 terá filmado Fernando Pessoa e José Régio, por acaso no Porto, existindo ainda alguma especulação sobre esse facto.
    Aprendeu com Mestres, conheceu Mestres, fumou com Mestres, bebeu com Mestres, filmou Mestres…. Uff

 
    Aos 106, ainda filma, ainda imagina, ainda relembra “Lucinda”, ainda sonha, ainda resiste.
    Resiste a esse descanso fácil, que o frio das paredes do panteão lhe promete.

    Resiste Manoel!
    Resiste a este país que não era o teu quando nasceste!
    Resiste aos constrangimentos e burocracias diárias pelas quais tens de ultrapassar para ano após ano conseguires apoios para continuares a tua obra.

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

    Resiste à falta de respeito que se dá no dia do teu 106º Aniversário, não passar uma única obra tua na TV.

    Resiste à falta de visão de quem manda; não ver em ti uma bandeira, um hino e achar-se normal não ver no “Aniki Bóbó” um conteúdo programático obrigatório do ensino básico português.

    Um dia Manoel, o Porto vai parar por ti, o país vai parar por ti, não haverá aliados para tanta gente!
    Todo o cinema Mundial estará aqui. E aí, muitos perguntarão quem foste, quem morreu?
    Levantar-se-ão estátuas a ti, o Expresso e o Público vão fazer uma colecção dos teus filmes a 5 euros cada um. A tua lápide será talhada. O teu lugar no
panteão preparado.
 

    Mas até lá, continuas cá, bem vivo, e sei que só morrerás quando bem te apetecer!
    Sei que só desistirás quando fores o Português mais velho!

    Portanto,
    Até para o ano!

    Tirando isto, lançaram-se uns filmes, umas curtas, felizmente a
Soraia Chaves não teve de mostrar as mamas novamente, julgo!

    De ressalvar é também, “
Estrada da Revolução”, documentário de Tiago Carrasco, João Fontes, João Henriques com realização de Dânia Lucas; “Mudar de Vida”, Vida e obra de José Mário Branco (para quem não conhece informe-se porque vale a pena), outro génio, que os génios têm de ser acarinhados em vida e não depois de mortos!
    Ah, e o João Botelho gravou e levou "
Os Maias" ao cinema, mas como o argumento já estava escrito, metade do trabalho já estava feito sendo assim não merece tanta consideração. 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

Por: Filipe Santos

2014: É tão bom...Não foi?

    Existem dois hábitos característicos em cada final de ano: A elaboração de uma extensa lista de promessas para o ano seguinte. E o exercício de memória sobre o que é que se passou de relevante nos últimos 12 meses.

 

    Uma triste notícia deste final de ano, fez-me recuar muito no passado e recordar com orgulho (extremo) um momento da História que efectivamente tive pena de não presenciar. Confusos? Eu explico.

 

    Ali no final da década de 60, quatro amigos tiveram a ideia de organizar um festival de música ao vivo, ao ar livre. Uma heresia para aquela época. Os Pioneiros “pagãos” pensaram em tudo ao mais pequeno pormenor, desde como vender os bilhetes, as vedações do recinto até ao exímio cartaz do festival, que “só” contemplava os 31 melhores artistas da época.

 

    Pensaram em tudo excepto numa coisa… Que em vez de aparecerem os 180 mil festivaleiros iam aparecer 500 mil. A verdadeira “tourada”!!!

 

    Woodstock ficou na história e Joe Cocker é parte fundamental dessa História. O seu legado é imenso e deixa-nos felizes. Quem nunca fez danças sensuais para o/a companheiro/a ou dançou para amigos ao som de “You Can Leave Your Hat On” que atire a primeira pedra.

 

    2014 ficou ainda marcado pela estranha mas inteligente aliança entre a Apple e os U2. Provavelmente desconfiados que um écran maior e mais 10 minutos de bateria extra não iriam agradar aos consumidores, os senhores da maçã ratada decidiram oferecer o novo álbum da banda Irlandesa “Songs of Innocence”. Talvez fruto da maldição do 13, este 13º álbum dos U2 colheu imensas críticas dos fãs. Não pela sua qualidade, que em boa verdade conseguiu uma melhor aceitação que “No Line on the Horizon”, mas pelo facto de ser um álbum gratuito. Estranho? Não. São os tempos modernos. E se a moda de oferecer música vira moda… nós desconfiamos mas agradecemos.

 

    Para nós portugueses, este álbum dá-nos ainda aquele cheirinho de espírito patriótico, uma vez que o vídeo de “Raised by Wolves” foi realizado pelo português Alexandre Farto aka VIHLS.  (Se tiverem a oportunidade de ouvir “A Portuguesa”… façam-no agora que o resto do texto espera).

 

    Este ano trouxeram-nos ainda agradáveis surpresas, como por exemplo o Australiano Chet Faker (“Built on Glass”), que além de homenagear a lenda do jazz Chet Baker, mostrou que música electrónica afinal não é só “Scooter”.

 

    Os “Temples”… esses meninos de cabelo fixe que mostraram que de Inglaterra afinal de contas não sai só “britpop”, mas que o Indie e Rock Psicadélico ainda vivem.

    

    E como “piéce de resistance” deste ano o álbum “Turn Blue” dos “The Black Keys”. Patrick Carney e Dan Auerback, com umas valentes “balls of steel”, arriscaram em cortar drasticamente com tudo o que haviam feito até agora, correndo um sério risco de perder uma legião de fãs que aumentou exponencialmente com o álbum “Brothers” e que se confirmou com “El Camino” e os 5 singles que saíram dali.


    “Turn Blue” é uma enciclopédia de estilos musicais. Desde a melancolia dos “Blues” ao estilo efusivo do “Country” o álbum flui facilmente ao longo das 11 faixas que o compõe.

 

    Finalmente por cá, destaque para a verdadeira Ode à Saudade (coisa tão nossa) em que se tornou o reencontro dos Silence 4.

 

    Para as afirmações na cena musical nacional de Miguel Araujo, dos Dead Combo, Diabo na Cruz e Samuel Úria.

 

    E para o (re)”nascimento” de artistas com um potencial enorme como Sam Alone, Capicua, Capitão Fausto e The Black Mamba, que com a sorte de terem nascido na terra do Tio Sam, em vez de serem estrelas em ascensão já seriam verdadeiras constelações.

Por: Zé Eduardo Martins

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