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    Quando decidi ser enfermeira eu queria mudar o mundo! Pensava fazer uma missão, ajudar crianças subnutridas, ir ao encontro de velhinhos abandonados, poder abraçar alguém que se sente doente, só e sem forças… Não sei porquê, achava que ser enfermeira me permitiria tais experiências. Nunca convivi com nenhum profissional que me falasse de como era ser enfermeiro, e até entrar no curso de Licenciatura em Enfermagem, o único contacto que tinha tido com a profissão era das minhas raras idas ao centro de saúde para ser vacinada.

 

    Apesar dos meus sonhos, a verdade é que sempre se associou ao enfermeiro simples tarefas, o enfermeiro é aquele que administra uns injectáveis e faz uns pensos. O meu percurso no mundo académico fez-me perceber que a profissão era bem mais do que isso.

 

    O enfermeiro presta cuidados de saúde direccionados e específicos a cada utente, acompanha-o ao longo do seu ciclo vital, em todas as fases do ciclo familiar e não tem um papel meramente curativo, tem a sua grande acção no âmbito preventivo.

 

    Quando iniciei o meu percurso profissional, como qualquer recém-licenciado, estava cheia de expectativas e com o sentimento de que iria mudar a visão que a sociedade tem dos enfermeiros. Iria mostrar que ser enfermeiro é ter uma profissão plena, é ser parceiro do utente e ter sempre algo para lhe oferecer.

 

    E sabem que mais? Ainda não perdi essa vontade! Acredito que é mostrando que somos pessoal qualificado, que implementa acções fundamentadas das quais resultam ganhos comprovados em saúde, que valorizaremos a nossa profissão.

 

    Comparativamente a outros profissionais licenciados, nós ainda não somos remunerados como tal, parece que somos considerados profissionais de segunda categoria. Não nos é atribuída remuneração compatível com a responsabilidade que assumimos diariamente na prestação de cuidados de saúde. Para além de desempenharmos funções importantes, cujos actos podem decidir entre a vida e a morte, ser enfermeiro implica muitas vezes sacrifícios pessoais. Faltar à festa de aniversário de entes queridos, não estar presente no Natal no jantar com toda a família, é acordar no domingo bem cedo pela manhã quando o resto da família ainda está a dormir… Ser enfermeiro é deixar por vezes de ser pai, mãe, filho, irmão e ser apenas enfermeiro…

 

    Para além das desigualdades remuneratórias, existem diariamente desigualdades de tratamento entre nós, os enfermeiros, e os restantes profissionais de saúde. Apesar de tudo, acredito que estas desigualdades se devem sobretudo a nós mesmos, que nem sempre soubemos agir da melhor forma, que nos recusamos a tomar uma decisão quando foi necessário, que optamos por dizer “tem de perguntar ao Sr. Dr.”, em vez de assumir a responsabilidade por actos que também sabemos executar e dos quais temos autonomia. Espero que a nova atitude que os profissionais de enfermagem nos dias de hoje demonstram seja recompensada no futuro. Que em breve todos saibam reconhecer a importância social do “ser enfermeiro”, e que por acréscimo tudo venha a ser nivelado tanto em termos salariais como humanos.

 

    Se eu gosto de ser enfermeira? Adoro! Se gostava se ser melhor paga? Seria ouro sobre azul! Fica a esperança que tempos de abundancia e justiça virão.

 

    Quando entrei para o curso de enfermagem, a primeira pergunta que fiz no secretariado foi “Quantos anos são para este curso?”, o que demonstra o bem informado e preparado que fui, e quão conscienciosa foi a minha escolha de actividade profissional para os meus anos de labor. Claro que se fosse a seguir as indicações dos testes psicotécnicos do secundário, teria tentado a minha sorte como jardineiro ou revisor na CP…

 

    O curso foi um misto de sensações. Ter começado o terceiro ano do mesmo pelo estágio de Cirurgia no IPO, serviço Cabeça e Pescoço, com a orientadora que tive, não foi o que me encorajou a seguir. Se ainda não tinha suficientes dúvidas que deveria insistir em ser Enfermeiro, chumbar no final desse ano foi um duro golpe na minha volição. Claro que já tinha entregue 3 anos da minha vida e do dinheiro dos meus pais ao curso, não podia desistir.

 

    O resultado de quem mudou de ideias de Medicina para Enfermagem por não ter nota, mais o anterior? Sou Enfermeiro há já anos suficientes para saber que se tivesse que mudar, já o teria feito. Posso ser mal remunerado e ter que ter abandonado o meu país de origem para poder começar a ser aquilo para que estudei, e ser emigrante durante 3 anos; posso não ver meritocracia no local de trabalho, interdisciplinarmente, ou pelo governo, por ser da categoria “Enfermeiro”.

 

    A verdade é que sem esta figura ostracizada e mal amada, a engrenagem da Saúde não funcionaria. Pública, privada ou cooperativa. Na saúde primária contribuimos para que uma boa fatia da população ganhe em qualidade de vida e poupe em idas ao hospital; neste, somos a presença 24h por dia, 7 dias por semana, 365 dias por ano. Não há Domingos nem feriados, dias santos ou qualquer outra festividade que nos afaste de quem se apresenta no seu estado mais frágil. Quem não recupera totalmente encontra-nos novamente nos centros de reabilitação, onde fazemos parte de mais uma equipa que faz por voltar a trazer vida a quem julgava tê-la perdida.

 

    O que perco por ter seguido esta bela profissão que dá a oportunidade de seguir alguém do nascimento à morte, ver o melhor e o pior da saúde (e da inevitável doença)? Perco noites, que me desregulam o ritmo circadiano, aumentando o risco de inúmeras doenças na reforma que não me espera; perco um sem número de festas com a família, perco imenso dinheiro todos os meses por pertencer a uma classe enorme em número e em opiniões, o que nos deixa desunidos e desorientados na hora de negociar melhores condições.

 

    Se é assim tão mau, porque continuo? Porque aprendi a ganhar a confiança dos meus pares e colegas de outras classes com conhecimento, porque por muito que seja outro a prescrever a cura, sou eu que a instituo e acompanho a sua evolução, passo tanto tempo com as pessoas que detecto pequenas diferenças que podem fazer toda a diferença. Tanto posso ajudar a dar à luz uma vida nova, como trazer à vida quem parecia já não viver ou, mais importante, dignificar e respeitar a partida. Desperto sorrisos em quem não tem motivos para tal, ouço confissões e histórias de uma vida, desabafos. Acredito que faço uma diferença positiva, no relativo curto espaço de tempo em que pertenço às suas vidas.

 

    Ser enfermeiro pode ser mal pago, posso ser menosprezado, posso ter uma classe pouco coesa, mas no final do meu turno, melhorei ainda que por um momento a vida de alguém. Quantos podemos dizer o mesmo?

Ser Enfermeiro(a)...

Por: Luísa Carneiro

Por: David Rodrigues

Uma Rodada de...
Procura de Trabalho

    Acaba o ano lectivo e com ele termina o percurso académico para muitos finalistas. Aguarda por estes jovens (com licenciatura, mestrado ou doutoramento) um novo desafio: encontrar trabalho. Esta árdua tarefa para a maior parte de nós. O entusiasmo do início logo se torna numa mistura entre angústia e desespero. A minha procura por trabalho na área não foi longa (não me posso queixar com três meses), mas deu para sentir a revolta de quem está nesta etapa.

 

    Assim que terminei o meu primeiro estágio profissional do Instituto do Emprego e Formação Profissional – IEFP, fiz-me à estrada em direção à capital com uma pasta cheia de currículos. Sim, porque toda a gente refere que é sempre melhor entregar o currículo em mãos. Mas porquê ou para quê? Não sei como funciona nas outras àreas, mas no meu caso – jornalismo-, entreguei quase todos os currículos nas mãos dos seguranças da entrada dos orgãos de comunicação onde me desloquei, à excepção de um, onde entreguei aos recepcionistas. Qual é, então, a finalidade de entregar a candidatura espontânea nas próprias empresas?

 

    Logo de seguida fui “atrás” das propostas de emprego através da internet e lá me deparei com a enorme quantidade de locais que exigem no mínimo três anos de experência. E não, não vou queixar-me do típico “se não nos dão experiência, como é que a podemos ter para poder trabalhar?”. Mas três anos de experiência?! Facilitem lá um pouco...

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

    A seguinte fase dividiu-se entre a longa (para não dizer eterna) espera pelas respostas e a distribuição de currículos por e-mail. Dos inúmeros locais para onde me candidatei recebi três respostas. Três! Atrevo-me a dizer que, em média, em cerca de 50 contactos recebemos cinco respostas. Ora... custa assim tanto enviar um e-mail pré-definido em que dizem não estarem à procura de trabalhadores ou alguém com o nosso perfil? Vá lá, não custa assim tanto dizer “não há trabalho disponível” e os candidatos agradecem. É que se torna um pouco revoltante ter o e-mail contantemente aberto na esperança de uma nova mensagem de uma empresa prestes a dar-nos um posto de trabalho e... nada!

 

    Das poucas respostas que recebi duas foram positivas e para os famosos estágios profissionais do IEFP (obvio! Mas este já é outro assunto). Lá vou eu a caminho do segundo estágio do IEFP que, se por um lado, dão experiência ao recém-formado, por outro não dá garantias de um emprego fixo, pois, como acontece em grande parte dos casos, as empresas não têm capacidade financeira para manter mais um funcionário e lá vamos nós para mais uma rodada de procura de trabalho.

Por: Daniela Alves

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